A mãe é o primeiro vínculo que estabelecemos e isso já acontece dentro do útero dela. Trata-se de um vínculo “visceral”. A mãe, como o filho, se sente como uma extensão corporal um do outro. Todas as funções corporais do bebê dependem totalmente da mãe: comer, dormir, tomar banho, etc. A criança só sente mal-estar, mas não discrimina do que se trata. É a mãe que traduz para o filho se esse mal-estar é de fome, de sono ou de alguma doença. O filho/a aprende com a mãe a conhecer seu próprio corpo e vê-lo separado do da mãe. Mas a tendência da função “mãe” é FAZER tudo pelo filho/a e desta forma os filhos criam uma dependência do fazer da mãe: “mãe!… faz tal coisa para mim?”
Tal dependência do fazer da mãe mantem os filhos dentro da infância emocional (de 0 a 9 anos). Assim vemos filhos adolescentes com comportamento infantis, ou seja, a maturação foi impedida pelo FAZER DA MÂE.
Aqui não se trata que a culpa de tudo seja da mãe, se não que, estender além dos 12 ou 13 anos a FUNÇAO MATERNA (fazer pelos filhos) produz uma falta de maturidade. É natural que a mãe ao ver os filhos passarem trabalho com as demandas da vida adolescente e adulta queira ajudar FAZENDO por eles o que os filhos deveriam fazer por si mesmos. Para a mãe é um ato de amor. Mas é um amor que impede de crescer!
Ao passo que o pai não é muito voluntarioso em fazer as coisas pelo filho/a e tem uma tendência a deixar de fazer coisas para eles, de comparecer na escola, de “ajudar” com os deveres, de levar no médico, de dar comida para o cachorro do filho, etc. Essa atitude é vista como egoísmo do pai. “O pai não se preocupa com minhas coisas, só quer saber das coisas dele”, “sempre que preciso dele, ele não tem tempo”, “ele não conversa comigo das minhas coisas, dá pouca importância” e outras reclamações nesse estilo.
Aqui vemos duas atitudes diametralmente diferentes entre mãe e pai. E não se trata de que um deles esteja errado. Cada atitude, tanto da maternidade como da paternidade são estritamente necessárias em fases diferentes do crescimento. São funções instintivas. O ser humano mulher e homem já nascem com esse instinto natural. É o instinto que os filhos precisam de cada um dos pais em diferentes idades. A criança pequena não sabe fazer nada pelo próprio cuidado então a mãe cuida dele. O adolescente já sabe cuidar de seu corpo, sabe se conduzir até a escola, sabe falar para pedir o que deseja, etc. Não precisa mais da mãe intermediando essas funções. Na adolescência os filhos têm que APRENDER A SE VIRAR SOZINHOS perante os desafios da vida. Quem ensina a fazer isso é o pai.
O pai não tem vontade de fazer pelos filhos, mas tem vontade para ensinar como fazerem sozinhos. O próprio instinto do pai de não ajudar obriga os filhos a resolverem seus problemas. O instinto da mãe de resolver os problemas dos filhos os torna: infantis, raivosos, irritáveis, dependentes, incapazes, envergonhados e sem coragem de falar para resolver seus problemas, medrosos perante o menor desafio da vida, não tem claro o que querem e precisam da ajuda da mãe para escolher, sem muito direcionamento na vida, dentre outras.
Os homens têm posturas mais direcionadas, focadas e com iniciativa (caraterísticas masculina), ao passo que mulheres têm uma visão mais contextualizada, abrangente, sem foco específico e mais receptivas (caraterísticas feminina). Ambos, homens e mulheres, possuem os dois tipos de características, masculinas e femininas, só que de acordo com o gênero é mais preponderante uma característica que a outra. Desta forma a mãe passa para o/a filho/a as características femininas e o pai as masculinas. Cada tipo de característica nos são uteis em situações diferentes da vida; algumas demandam uma atitude mais masculina, como as situações de trabalho, por exemplo, outras uma atitude mais feminina como situações de relacionamento afetivo. Ficar em falta de uma delas significa andar capenga pela vida.
Quando os pais estão separados. Você não precisa de seu pai? Ou precisa?
“Como o pai e a mãe competem pela afeição do filho/a, não se pode ter uma imagem fiel do pai através dos olhos da mãe. Algumas mães procuram mostrar para o filho queas relações no mundo estão permeadas pelos sentimentos que são uma extensão da relação mãe-filho/a, ao passo que o pai representa o que é racional, rígido, voltado pro dinheiro e até brutal. “Seu pai sempre vai ser assim! Não tem jeito!”. Por tanto o filho cresce com uma imagem distorcida do pai, não necessariamente provada pelos atos ou palavras dele, mas baseada na observação que a mãe faz dessas palavras e atos.”
(Robert Bly “Joao de Ferro – Um livro sobre os homens”)
A mãe é quem estabelece para o filho a primeira conexão com os sentimentos: “você está triste, meu filho?” então o filho/a aprende que tal sensação é tristeza. Desta forma a mãe vai ensinando o que é raiva, medo, alegria, etc. ao descrever para o filho o que ele está sentindo. Dessa forma o/a filho/a aprende uma visão feminina do que são sentimentos que ao mesmo tempo encerra uma visão negativa do pai: aquele que não tem sentimentos, que não tem compaixão, “teu pai não entende dessas coisas”.
Desta forma o filho/a aprende e adota uma visão feminina sobre o pai e o que é a masculinidade. Ao passo que se afasta do pai, pois ele simboliza algo que é amedrontador e não desejável para o filho. O pai simboliza as dificuldades ao passo que a mãe as facilidades (ela facilita a vida). Se o filho vai para a vida com esta postura, ele acredita que tem direito ao que deseja, que “alguém” tem que lhe fornecer o que deseja (como a mãe o fazia); pensa que a vida é injusta com ele; e em consequência lhe falta atitude (qualidade masculina) perante a vida para conseguir o que quer dela, espera que a vida lhe dê e não se torna um produtor e um fornecedor, ele/a é apenas um consumidor do que “alguém” tem que lhe dar.
Quando os pais estão brigados esta situação se agrava, pois os filhos geralmente escutam as desvalorizações do pai e das qualidades masculinas como sendo algo não desejável. Então geralmente os filhos adotam uma postura “eu nunca vou ser como meu pai”. Esta postura os impede de absorver na personalidade as características do pai que lhe serviriam para lidar de forma mais assertiva na vida. Dessa forma os filhos começam a se sentir impotentes perante diferentes situações de vida. Falta-lhes decisão e atitude. Tornam-se fracos.
Mas ainda escutaremos algumas mães dizerem: “melhor que não absorvam nada do pai, pois o pai é um fracassado, nunca ajudou em nada, ele sempre viveu para ele mesmo”. Como dizemos antes essa é uma visão feminina do pai e do masculino. O pai não deve ajudar o filho da mesma forma como a mãe o faz. O pai que ajuda é aquele que ensina o filho/a a achar as próprias soluções para suas necessidades ou dificuldades na vida. Pai é aquele que ensina a pescar, mas nunca dá o peixe. E o jeito que o pai ensina não é como a mãe o faria!! O que a mãe chama de atitude egoísta ensina o filho/a a ser autônomo, autossuficiente, independente. Essa autonomia o ajuda a sair da dependência da mãe e o torna adulto. Mas sabemos que muitas mães não querem, consciente ou inconscientemente, que o filho se torne independente dela, e dizem: “teu pai não te ajuda em nada, eu vou fazer isso no lugar dele”. Desta forma o prendem na “saia da mãe” tirando-lhes a independência que poderiam conquistar ao resolver seus próprios problemas de vida.
A forma como o pai se relaciona com o filho/a pode parecer aos olhos da mãe rude, sem compaixão, sem sentimentos, racional demais, focado no dinheiro ou na conquista de um objetivo deixando algumas coisas não prioritárias de lado. Mas é esse jeito que propicia ao filho/a a lidar de forma mais assertiva com sua vida, suas decisões, vencer obstáculos com suas forças e habilidades, a ter firmeza e responsabilidade. Assumir os próprios erros e acertos e se levantar sozinho quando cair na vida. O pai faz tudo isso com amor, amor de homem, amor masculino. O pai olha pros seus filhos, mas não intervém, apoia, mas não faz por eles. Cuida e protege quando é necessário. E faz tudo isso com amor. O amor está no ato em si, pois ensinar como a vida funciona fora de casa é trabalhoso e não tem compensação própria, a não ser o orgulho de ver o filho conseguir conquistar seus objetivos de vida sozinho, sem precisar dos pais.
Quando uma mãe impede ou interfere neste trabalho do pai está condenando o/a filho/a a que a vida ensine de forma muito mais dura e sem compaixão com a frustração e o fracasso como adulto. O mundo fora da casa da mãe se parece muito mais com o jeito do pai!