Como filhos, muitas vezes, encontramos dificuldades em nos aproximar de nosso pai. Quando falo de aproximação é no sentido afetivo em primeiro lugar e em segundo lugar de suas ideias sobre o mundo.
O mundo junto da mãe é muito diferente do mundo que o pai nos oferece. Para poder entender melhor isso vamos analisar como é o mundo da mãe e o mundo do pai.
Mundo da Mãe
O mundo afetivo que conhecemos é o da mãe. É ela que nos ensina sobre o que sentimos. Por exemplo, a criança chora, mas não sabe se esse choro é de tristeza, de raiva, de medo ou de alegria. A mãe percebe o choro e pergunta para a criança: “estás triste?” ou “estás com medo?”. Assim a criança aprende que aquele sentimento é tristeza ou medo. Em outras palavras é a mãe que dá nome para os sentimentos, o mundo da sensibilidade.
O primeiro contato com o mundo se dá de dentro do corpo da mãe (na gravidez). Somos um só com a mãe. Aonde a mãe vai, vamos juntos. O que a mãe sente, sentimos juntos. Ao nascer nosso corpo se separa do corpo da mãe, mas nosso vínculo afetivo ainda continua sendo um só com a mãe. Quando a mãe está alegre nos sentimos alegres. Se a mãe está triste também ficamos tristes. A mãe, por sua vez, sente o filho como se fosse uma extensão de si mesma, como se fosse um braço ou uma perna dela; algo do que ela não pode se separar. Esse sentimento vem da gravidez quando essa criança fazia parte de do corpo da mãe. Desta forma se estabelece uma relação simbiótica em que a mãe e o filho parecem funcionar juntos. A mãe satisfaz todas as necessidades do filho e o filho se sente amparado em todas as situações. Esse amor da mãe é um AMOR INCONDICIONAL, aconteça o que acontecer ela sempre estará presente nos apoiando. Mesmo que o filho esteja na cadeia por um crime hediondo a mãe o continuará amparando, ou seja, mesmo que estejamos equivocados a mãe nos acolhe.
Esse estágio é necessário nos primeiros anos de nossa infância, mas na medida que vamos crescendo adquirimos independência da mãe. Alimentamo-nos sozinhos, nos vestimos, nos higienizamos, vamos à escola e estudamos sozinhos. Ao chegarmos aos 12 anos aproximadamente, a dependência da mãe já diminuiu bastante, pois satisfazemos 80% das nossas necessidades sem a intervenção dela. Nessa idade começam a aparecer outras necessidades que a mãe já não pode suprir e quem tem a capacidade de suprir é o pai. Muitas vezes a mãe intercede perante o pai para que ele satisfaça o filho, mas quem tem o que o filho precisa é o pai.
Mundo do Pai
O amor do pai não é como o da mãe, incondicional !!! O pai nos coloca condições para nos suprir do que necessitamos. Ele coloca regras a serem cumpridas, caso contrário haverá uma consequência que não desejamos. Com a mãe é diferente, ela sempre dá um jeitinho de nos dar tudo sem cobrar nada. As mães têm muita dificuldade de negar algo para o filho. Elas sentem culpa quando negam algo para o filho. Mas o pai não. O pai nega como forma educar o filho para o mundo. O mundo lá fora do lar é CONDICIONAL. Nos impõe condições para nos dar algo em troca. Numa empresa você tem que seguir a política e as normas caso contrário terá punições. E quem aceita as políticas e normas empresariais é premiado e consegue com isso atingir seus objetivos e satisfazer suas necessidades pessoais.
O amor do pai é um AMOR CONDICIONAL que nos prepara para o mundo.
Mas aos 12 anos quem quer desistir do amor incondicional da mãe que tudo dá sem cobrar nada e se aproximar do pai que nos exige responsabilidade de nossos atos??? É muito, mas muito mais cómodo ficar no mundo da mãe onde somos supridos fartamente sem fazer esforço. Quem fica nesse mundo da mãe, ao sair de casa vai querer que o mundo se comporte da mesma maneira e então não aceitará normas e regras no trabalho nem nas relações, sejam de casal ou qualquer outra. Eles apenas querem que o mundo satisfaça suas necessidades a qualquer custo. Temos aí um comportamento psicopático que não aceita os limites sociais. O discurso dessas pessoas é: “o mundo é contra mim”, mas antes já devem ter falado: “meu pai é contra mim”, “meu pai não gosta de mim” e outros similares.
Na realidade quem não gosta é o filho que não aceita os limites que o pai lhe impõe como medida educativa. O filho não gosta dos limites que vem do pai e enxerga o pai como seu inimigo, alguém que vai contra suas vontades. Então o filho se refugia no amor da mãe que o acolhe e tenta satisfazer suas vontades porque a mãe não pode ver o filho sofrer. Sente culpa.
Para poder se aproximar do pai é necessário, em primeiro lugar, se afastar do mundo afetivo da mãe. Renunciar ao amor incondicional da mãe e se submeter ao amor condicional do pai que nos prepara para o mundo adulto. Aprender com o pai. Deixar todas as críticas que temos de nosso pai de lado e nos permitir sermos amados por esse pai que por amor nos impõe regras e condições para que depois não soframos no mundo fora de nosso lar. Quão mais amoroso poderia ser o pai??!!!
As mães deveriam facilitar essa passagem acatando os limites que o pai impõe ao filho e se desvinculando das decisões diretas para com a vida do filho, fazendo com que todas as decisões passem pelo pai. As mães devem conversar em particular com o pai sobre o futuro dos filhos, mas sempre deixar que o pai seja quem se dirige ao filho (isso a partir dos 12 anos). Não alimentar as críticas contra o pai que acabam sendo justificativas para o filho se manter no mundo da mãe e não crescer, se mantendo assim infantilizado. Dessa forma o filho pode estabelecer uma relação de confiança com o pai, pois ele vê que a mãe confia nas decisões do pai.
A partir dos 12 anos o filho deve ter mais contato com o pai que com a mãe. Seu referencial para tomada de decisões deve ser sempre o pai. Embora o pai tenha em conta o pensamento da mãe na hora de dar conselhos, ele não sente a culpa que o desviaria da direção educativa que prepara o filho pro mundo.
No caso de pais separados continua valendo a mesma coisa, após os 12 anos o filho deve passar mais tempo com o pai. E a partir dos 16 anos deveria ir morar com pai para se tornar um adulto responsável. Caso contrário, filhos criados pelas mães, se mantem infantilizados cheios de desejos que os outros devem satisfazer, sem força para conquistar seus objetivos de vida, pois tudo, para eles, vem da mãe.
Algumas pessoas se queixam dos maus tratos do pai quando era adolescente. Também há os maus tratos da mãe. Em ambos os casos precisa ser analisado se esses “maus tratos” eram realmente tais ou fruto da interpretação de quem os estava recebendo. Todos, de uma forma ou outra, em algum momento de nossa adolescência, sofremos com o tratamento que o pai nos impunha e não tínhamos muita saída a não ser nos submeter a vontade do pai sem compreender muito o porquê daquilo. Quando crescemos chegando na fase adulta e por sua vez nos tornamos pais ou mães conseguimos alcançar o entendimento de tais forma de tratamento. Porém, para quem não alcançou essa compreensão aqui vai uma reflexão de Alfonso Milagro:
A ferida que preserva a vida
“No tempo da poda, pareceria como se a arvore derramasse lágrimas; o insensível podador corta seus galhos sem compaixão, despoja a arvore de seus braços e roça sua galhada sem piedade.
Por cada uma das feridas a árvore destila o sangue de sua queixa ou de seu protesto; é como se a alma da árvore se levantara em grito contra semelhante atropelo.
Porém, isso serviu para que essa alma se contraísse, se retraísse durante os longos dias do inverno e assim não fosse alcançada em seu âmago pelo frio que mata.
Logo veio a primavera e os brotos anunciaram que a árvore não só não tinha morrido, mas que havia recuperado nova vida, nova força, nova fecundidade em flores e frutos.
Na tua vida a dor desempenha o papel do podador; tu poderás tal vez te queixar com pessimismo; mas se tens fé poderás te servir de nova força na tua vida.
O inverno não é a morte, é a reconcentração da vida.
Os mortos não são os que repousam em paz no seu tumulo. Mortos são os que têm a alma morta e ainda estão vivos.”